quarta-feira, 18 de junho de 2008

FUNDAMENTALISMO CRISTÃO X EVANGELHO INCLUSIVO


Chocou a comunidade LGBT ao redor do Globo o anúncio, na semana passada, das declarações do Presidente da Gâmbia (África) Yahya Jammeh. O Presidente ameaçou cortar a cabeça dos homossexuais e de todos os seus amigos que vivem naquele país. Aconselhou aos homossexuais que saiam do país o mais breve possível, pois será implacável em sua perseguição. Declarou que um país crente (mulçumano) não pode tolerar “ato pecaminoso” ou imoral. Em nome de Deus, Jammeh mata gays.

No Brasil, pastores evangélicos e membros da ala conservadora da hierarquia Católica Romana, arquitetam com parlamentares do Congresso Nacional a derrota de todo e qualquer Projeto de Lei que viabilize a causa LGBT, fazendo emperrar o avanço das conquistas deste segmento social; em nome de Deus.

Nos templos evangélicos e nas paróquias da Igreja Romana, bem como em seus programas de TV e sites na internet, o discurso pela não concessão de direitos e os ataques morais ao povo LGBT brasileiro é sistemático e diário; tudo em nome de Deus.

O fundamentalismo não é exclusividade do povo cristão como atesta as declarações do Presidente da Gâmbia. Ele está presente nas grandes religiões monoteístas (cristianismo, islamismo e judaísmo) e também no budismo, hinduismo e confucionismo. Fenômeno e fato recente, podemos datá-lo em torno dos anos 70 do século XX, na esteira dos movimentos de liberação sexual e contracultura dos fins dos anos 60. O termo fundamentalismo foi usado pela primeira vez no início do século XX por cristãos evangélicos norte-americanos, que diante do avanço científico e social, diante do que eles chamam de “teologia liberal”, desejavam voltar aos fundamentos da fé. O caminho era a re-afirmação da literalidade bíblica e das doutrinas fundamentais da fé cristã.

Interessante notar, que na mesma época, fim dos anos 60 do século XX, cristãos e cristãs LGBT’s fundam em Los Angeles, nos Estados Unidos, a primeira igreja inclusiva, visando assim, a inclusão de lésbicas, gays, travestis e transexuais na comunidade de fé cristã. Troy Perry e seus onze amigos presentes naquele memorável culto ao Senhor fundam, em 1968, a Igreja da Comunidade Metropolitana, a primeira igreja inclusiva do mundo que vai suscitar o debate sobre a inclusão de LGBT’s em outras vertentes cristãs, principalmente na Igreja Anglicana e nas Igrejas Reformadas, notadamente a Igreja Presbiteriana dos EUA (PCUSA). Organizações “pára-eclesiásticas” de homossexuais são formadas a partir de então em todo o país, manifestações são organizadas, cultos celebrados. Uma produção teológica em torno dessas questões tem início nas faculdades de teologia e o povo LGBT, a partir de então, começa a reivindicar o direito de exercer sua fé no Deus professado pelos seus pais, identificado como Pai de Jesus Cristo, o Deus da Bíblia.

A Comunidade Betel do Rio de Janeiro, uma igreja reformada protestante e inclusiva, fundada em Agosto do ano de 2006, visa por em prática o que é estabelecido nos PRINCÍPIOS DE YOGYAKARTA, que de acordo com o Princípio 21, estabelece o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião. Proclamamos na esteira dos Apóstolos de Jesus Cristo que Deus não faz acepção de pessoas, que convida todos e todas, independente de orientação sexual ou qualquer outro “rótulo”, para viverem em novidade de vida. Nos identificamos como reformados protestantes porque vivemos os princípios advogados na Reforma Protestante, principalmente a separação entre Estado e Igreja (Estado Laico), a liberdade de consciência, de culto e o avanço científico. Países que foram palcos da Reforma Protestante como Suíça, Inglaterra e Holanda, por exemplo, respeitam hoje o povo LGBT que vivem em seus territórios e lhes concedem direitos de cidadania plena; nos orgulhamos, portanto, de nossa herança reformada protestante e praticamos o que, desde os anos 60, chamam de inclusão religiosa, defendendo o direito de todos e todas de serem membros plenos da comunidade de fé cristã, para viverem segundo os princípios éticos e religiosos anunciados por Jesus Cristo.

Evangelho significa Boa Nova, Boa Notícia. E esta é: Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens/mulheres os seus erros, mas rasgando, quitando, tudo o que nos era contrário. Evangelho para ser Evangelho é inclusivo, ou seja, a ninguém exclui, antes, anuncia a todos esta Boa Notícia revelada na pessoa de Jesus Cristo.

Pecado é negar o direito de liberdade de consciência e religião aos indivíduos. Pecado é odiar o próximo, exterminando-o. Pecado é a homofobia. Pecado é negar cidadania plena ao povo LGBT. Pecado é não amar, pois diante de Deus, que é Amor, todo amor é abençoado. A palavra pecado significa errar o alvo. Que alvo? O alvo do amor.


Venha você também viver em novidade de vida, cultuando a Deus livremente e viver segundo os princípios de Jesus Cristo! Deus te criou e te ama do jeitinho que você é! Deus nos abençoe e nos dê forças para lutarmos todos os dias contra toda forma de exclusão!
Reverendo Márcio Retamero.

COMUNIDADE BETEL DO RIO DE JANEIRO
RUA DO RESENDE, Nº 35, 2º ANDAR.
SALA DE REUNIÃO DO HOTEL POUSO REAL.
LAPA – RIO DE JANEIRO

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